Trecho do Livro Produção de Coelhos: Caseira, Comercial, Industrial
 

  Raças

9ª edição revista e ampliada - São Paulo

 

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   Lepus cuniculus -    
       
       Não há dúvidas ou controvérsias de que todos os coelhos domésticos descendem do coelho selvagem europeu (Lepus cunicullus). Basta fazermos um comparação e veremos que não há diferenças apreciáveis entre eles. tanto nas suas formas, fisiologia ou hereditariedade, exceto quanto ao caráter calmo do doméstico e o arisco do selvagem.

     É fato conhecido que, se soltarmos coelhos domésticos nos campos, eles logo se tornarão selvagens, enquanto que, se prendermos alguns filhotes de coelhos selvagens, eles ficam mansos e fáceis de domesticar, mas conservando uma grande tendência ao retorno à vida selvagem. Nenhum outro anima, com exceção talvez do cachorro sofreu, durante seu processo de domesticação, tantas transformações como os coelhos.

     Do coelho selvagem europeu, foi obtido um grande número de raças de diversas cores e pesos, chegando os coelhos Gigantes de Flandres a atingirem mais de 9 kg, o que representa 5 vezes mais do que o peso do coelho selvagem. Além disso, sofreu profundas modificações na cor do manto, na cor dos olhos e no comprimento do pelo e das orelhas.

     Já 2.500 anos antes da era cristã, segundo Charles Darwin, Confúcio, o grande sábio chinês, se referia à existência do coelho na China. A maioria dos autores considera o coelho como originário da península Ibérica, da Espanha, embora outros julguem o seu berço a África e ainda outros, o sul da Europa. Os que consideram a África o berço do coelho, acham que daí é que ele passou para a Europa.

     Existem, espalhados nas regiões montanhosas da Arábia, Síria e Palestina, um animal muito parecido com o coelho e conhecido por "SPHAN", o que provavelmente levou os fenícios a denominarem "SPHANIA", que significa costa dos coelhos, à região em que desembarcaram, hoje ESPANHA, pois aí encontraram grandes quantidades desses animais que eles confundiram com aquele roedor do Oriente. Também de "Cuniculosa" foi chamada a Hispani, por Estrabão, o grande geógrafo grego, o qual menciona que os coelhos ali se multiplicavam tão rapidamente que se tornaram um perigo para os seus habitantes.

     Plínio afirma que os coelhos, partindo de Tarragosa, se espalharam pelas ilhas do mar Mediterrâneo e que, na ilha Minorca se reproduziram tanto, que os seus moradores tiveram que pedir ao imperador romano Augusto, que enviasse seus legionários para combaterem o perigo que representavam esses pequenos animais. Das ilhas Baleares, segundo Ayala, os coelhos se disseminaram pelos países mediterrâneos e daí pela Europa Central e do Norte. Na Inglaterra, segundo Brehn, o coelho foi introduzido no ano de 1.309, por entusiastas da caça.

     Os antigos egípcios, gregos, indus e chineses já criavam coelhos, segundo revelam documentos dos séculos XVIII E XIX. Na China, simbolizando a fecundidade, em 1.600 templos, eram sacrificados mais de 30.000 coelhos, na primavera, para pedir aos deuses que a terra fosse fecunda como esses animais e no outono, em agradecimento pelo que a terra havia produzido.

     Atualmente, os coelhos se encontram espalhados por todos os continentes. A grande capacidade que tem de se reproduzirem, isto é, a sua prolificidade, reconhecida desde a antiguidade, é a principal característica, sendo mesmo a qualidade que os torna um dos animais domésticos cuja criação poderá atingir um desenvolvimento incalculável, produzindo em pouco tempo, grandes quantidades de alimentos, abrigos e bons lucros aos criadores.

     Os coelhos, como já mencionamos, tem sua origem na Europa. Levados para a Austrália, não encontraram aí inimigos naturais e sim boas condições de clima e alimentação variada e abundante, multiplicaram-se tanto e tão rapidamente que se tornaram uma terrível praga, um problema de calamidade pública até agora insolúvel, pois causam grandes prejuízos aquele país, devastando suas pastagens e plantações. Hoje em dia, é calculado em 500 milhões o número de coelhos existentes nesse país. A tal ponto chegou a situação que, para o país não ser todo invadido pela praga dos coelhos, foi construída uma cerca de tala de arame de 2 metros de altura e com 2.240 km de extensão, dividindo o país em duas partes, uma das quais dominada por esses pequenos animais. todos os métodos de combate e extermínio já foram tentados mas sem resultados satisfatórios, contra essa qualidade dos coelhos, a prolificidade, que os tornou uma praga na Austrália. O mesmo já está começando a ocorrer no sul da Argentina e do Chile.

autor MÁRCIO INFANTE VIEIRA

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